O disco contém a já conhecida de muitos "Querido Diário", que circulava pela internet, abre o álbum com os relatos de Chico sobre as pessoas que o cercam ("hoje topei com alguns conhecidos meus"), as disfunções sociais ("hoje a cidade acordou toda em contramão"), as aflições ("hoje pensei em ter religião"), as relações ("hoje afinal conheci o amor") e as pessoas que teme ("hoje o inimigo veio me espreitar"). "É um novo 'Cotidiano'", compara o próprio compositor com sua música de 1971.
A marchinha de vanguarda "Rubato" (roubado, em italiano), parceria com Jorge Helder, vem na sequência descrevendo o roubo de uma composição de amor que é utilizada para homenagear diferentes amantes: "Venha ouvir sem mais demora/ a nossa música/ que estou roubando de outro compositor", ele canta.
O blues "Essa Pequena" introduz a paixão de um homem por uma moça mais nova. Pode-se dizer que a inspiração dessa canção é nova namorada de Chico, a cantora curitibana Thais Gulin, de 30 anos . Na letra, Chico revela sua felicidade mesmo apesar da idade e de uma possível efemeridade do relacionamento : "Meu tempo é curto, o tempo dela sobra. Meu cabelo é cinza, o dela é cor de abóbora. Temo que não dure muito a nossa novela, mas eu sou tão feliz com ela". E conclui: "Sinto que ainda vou penar com essa pequena, mas/ o blues já valeu a pena".
Em "Tipo Um Baião", Chico brinca com o andamento da canção ao viver uma desilusão amorosa, e compara: "Meu coração/ que você sem pensar/ ora brinca de inflar/ ora esmaga/ igual que nem/ fole de acordeão/ tipo assim num baião/ do Gonzaga".
"Se Eu Soubesse", outra música composta para companheira, Chico divide versos com Thais. "Ah, se eu pudesse não caía na tua/ conversa mole, outra vez/ não dava mole à tua pessoa", ele canta, até encontrar com a voz dela: "Mas acontece que eu sorri para ti/ e aí larari, lairiri, por aí".
A faixa 6, "Sem Você 2", narra de forma arrastada e triste o sentimento de um amor que se foi. "Sem você/ é um silêncio tal/ que ouço uma nuvem/ a vagar no céu/ ou uma lágrima cair no chão/ mas não tem nada, não.
A tristeza é interrompida pelo samba "Sou Eu", canção que Chico escreveu com Ivan Lins e deu a Diogo Nogueira para o disco do novato "Tô Fazendo a Minha Parte" (2009), e que agora ganha a voz do compositor. Aqui, Chico convida Wilson Neves para se gabar de que "sou eu/ só quem sabe dela sou eu/ quem joga o baralho sou eu/ quem brinca na área sou eu".
"Nina", a valsa que ocupa a faixa 8 do álbum, fala de uma moça de Moscou que convida o autor a viajar até a capital russa — ou ao menos a espiar a cidade em mapa virtual. "Nina diz que se quiser eu posso ver na tela/ a cidade, o bairro, a chaminé da casa dela", ele canta, levado por um acordeão, arrematado por um acorde dramático de piano.
As confusões de memória do narrador de "Leite Derramado" recaem na graciosa "Barafunda". "Era Aurora/ Não, era Aurélia/ ou era Ariela/ não me lembro agora/ é a saia amarela daquele verão/ que roda até hoje na recordação", ele canta, lembrando que é carioca ("Foi na Penha/ não, foi na Glória"), evocando o futebol pelo qual é apaixonado ("Era Zizinho, era Pelé") e terminando na companhia de "É Garrincha, é Cartola e é Mandela".
A canção mais longa, "Sinhá", de quatro minutos, encerra o disco ao lado de João Bosco, num clima lírico ainda que remeta à escravidão. Nela, o compositor dá voz a um escravo que alega inocência a fim de escapar da punição física por ter conquistado o coração da sinhá (esposa do senhor do engenho).
O álbum, da gravadora Biscoito Fino, pode ser encontrado por R$ 29,90 no site www.chicobastidores.com.br.
Faixas do álbum:
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